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Liderança e a Festa de Babette

Atualizado: 8 de mai. de 2020

Por Wanderlei Passarella - Diretor Executivo na Synchron & Celint


Artigo | Liderança e a Festa de Babette

O que a Liderança e o filme “A Festa de Babette” tem em comum? Se você ainda não assistiu ao filme, te convido a conhecer a história através deste artigo e refletir sobre o belo exemplo de liderança integral. Se já assistiu, aproveite para fazer uma releitura. Em ambos os casos, compartilhe conosco suas reflexões em “Comentários” abaixo.

Antes de tudo preciso dizer quem de fato era Babette, a personagem principal do filme. Ela era, entre outras coisas, uma líder excepcional e uma grande artista. Talvez antevendo que quem de fato exerce a maestria da liderança integral é, em essência, um artista. Ela era uma dessas pessoas que dominam sua arte não somente com os sentidos físicos, mas com suas emoções, sua análise estética e com seu espírito. Era uma artesã dos aromas e paladares. Dominava como ninguém essa habilidade. Foi uma grande “chef”, que trabalhou num dos mais afamados restaurantes de Paris, uma líder incomum, que propiciava a transmutação dos alimentos e catalisava a mudança construtiva a quem os absorvia.

Fugida da França, devido aos horrores de uma guerra em seu país, ela se refugia na Dinamarca e passa a trabalhar como empregada doméstica de duas senhoras que a acolheram em troca de seus serviços. Com sua infinita simplicidade, ela se demonstra uma líder do mais alto calibre. Foi capaz de uma renúncia sem igual. Trabalhou calada, por anos a fio, sem nunca pedir e nem nunca se queixar. Aprendeu os pratos comuns aos quais suas patroas estavam acostumadas. Apenas esperou pacientemente a oportunidade de demonstrar qual era o potencial de transformação de sua arte.

Sua equipe era um grupo de operários aguardando sua libertação das amarras do capitalismo? Ou vários cientistas que esperavam a chegada de quem iria conduzir seus esforços? Não! Como dito, ela representava o papel de uma simples empregada doméstica, servindo a suas patroas. Estas herdaram um grupo de fiéis de uma seita religiosa fundada por seu pai. E estes fiéis, direta ou indiretamente, também desfrutavam dos serviços de Babette. Para mim, eles eram sua equipe.

Essa sua equipe, então, era composta por pessoas presas a uma religião, cheios de regras de conduta e moral. Mas todos eles humanos, portadores de vícios e de erros e que, por terem a barreira externa da religiosidade, se acomodavam e não visitavam de fato seus interiores. Ali sim, poderiam encontrar a vastidão do espírito, e a possibilidade de uma verdadeira comunhão com o todo, com o mistério e com a ética dos que meditam e refletem criticamente sobre os acontecimentos de nossas vidas.

É importante reafirmar que, por muitos anos, Babette viveu sua vida simples nos afazeres domésticos com as duas senhoras e os fiéis que frequentavam sua casa. Mas, eis que um dia Babette ganhou na loteria e pediu uma só coisa às suas patroas: que elas a deixassem preparar o jantar comemorativo ao centenário de nascimento de seu pai, fundador da seita. As senhoras concordaram. Mas se arrependeram logo depois, ao verem os alimentos exóticos que Babette comprara. Através das lentes de seus preconceitos, viam naquilo um ultraje, coisa do mal. Não compreendiam que o mal não é o que entra na boca do homem, mas o que sai dela!

Babette, num gesto de extremo desprendimento e amor à sua arte, gastou tudo o que ganhara para elaborar esse jantar primoroso. Os convidados, instruídos pelas anfitriãs para apenas comerem, sem emitirem quaisquer comentários, começaram a notar que algo diferente estava acontecendo com eles. A força imanente da alquimia dos sabores estava tocando fundo em todos os seus sentidos humanos.

Eles já não se reprimiam e nem julgavam uns aos outros, como vinham fazendo. O deleite do momento invadia suas sensações físicas, realçava suas emoções mais virtuosas, como o bem-querer, o perdão e a compaixão, e acendia a luz de algo mais profundo em seus seres. Quando acabou o jantar, pela primeira vez desde que se conheceram eles fizeram uma roda e dançaram! A circularidade, símbolo eterno do insondável, da infinitude de nossos centros sagrados se expressou através deles. Foi o ponto alto, o êxtase, a verdadeira transmutação!

Naquele momento, esses homens e mulheres sobrepujaram a religião, que os mantinha presos a regras morais vindas de fora para dentro e, finalmente, conheceram a espiritualidade que tudo une, que de fato liberta e que vem de dentro pra fora. Que momento maravilhoso de pura numinosidade!

Todos os chefes, em todos os âmbitos de atuação, deveriam ver esse filme. Quem sabe, se quando vissem o milagre dessa transformação, pudessem compreender o que de fato é liderança. Ah, e como precisamos disso em nossa pátria dilapidada! Quem sabe se nesse momento se acenda em seus íntimos uma luz nova e, como Babette, se inspirem para dar seu melhor. Assim, onde quer que estejam, há a esperança de que suas equipes também realizem um trabalho ímpar, auto motivadas pelo exemplo do líder. E, ao mesmo tempo em que resultados amplos se concretizem, também encontrem a fonte de vida e de plenitude dentro deles mesmos!

Veja o filme!


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